segunda-feira, 27 de abril de 2015



Ausência,


Escrevo, pois tudo é metafórico tal qual a busca das palavras atônitas que cercarão minha voz. A escrita é urgente, instintiva, e não posso mais ser omissa.
Se antes escrevi os meus seres, proclamava-os na instância das palavras, hoje o faço de modos contrários.
Assim, o faço para silenciar. Silêncio que estabeleço ao dizer e chamar-te Ausência. Meu espírito reencontra a si, mais uma vez. Reconhece em resistência. Vivo ao resistir. Opto pelo desaparecimento que diz: resisto. Nego a existência. Resisto, uma vez mais. Escolho o silêncio insustentável do não ser.
É a causa do não ser.  
Eu seria eternamente o seu bichinho, entretida em relações e complexidades; deixaria que me esfolasse a pele, que brincasse com minha personalidade e afligisse a moral dos contructos. Deleitar-me-ia com todo o jogo das contradições, seria solícita e prestativa ao teu amor. Eu te amo, em propósito. Já fui sua santa, seu colo, já beijei suas lágrimas, fui fruto e alvo dos filhos que trouxe ao mundo. Orei e mijei nos seus relicários, sem nunca ter pisado no chão da sua casa. Eu fui sua, sem nunca tê-lo sido. Eu seria seu bichinho, nunca sua mulher. Por mais que você o tenha quisto, que você o tenha negado, que você o tenha implorado – ao silêncio –. Eu resisti. Não no espaço cognoscitivo das almas, mas naquilo que chamarei de natureza. A minha natureza resiste. Ela é resistência. Neste complexo instante eu vejo como o fiz durante toda a vida. Os meus olhos resistem a entrega, minha boca resiste as letras, minhas mãos a servir, e meus pés dançam [...]

P.S: This time I'm gonna keep me all to myself



                                                      Tereza
27.04.2015

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

13. 02. 2013



Sinto as profundezas.

Sincrônico, os sentidos que partem.  

Perpassam.  

Paro,         no efeito do parto,           deixando ir. 

Deixando ser.

 Sem que haja lágrimas,   

 sem que haja                                                      nós.
   Desfez
 O nodo se corta,

 e vo(ô)u.        
                            Te levam.  

Se elevam,

 e agora, há som.

emudecendo...
                nasci.





 Lights
13.02.2013

domingo, 26 de janeiro de 2014

17. 01. 2014


Não lembro mais o teu nome. Nem o gosto que tivera.

Não lembro,
e se lembro
só há torpor.

Você sorri outro riso. Me vê com outros olhos.

como se entre nós
nunca tivesse havido vênus”



Cardinal
17. 01. 2014

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

?. 01. 2014


Eduardo,

Conheces o meu jeito indecente de dizer-lhe as coisas. Creio que sempre fora perceptível a infinitude de intentivas sem termos que disparei a ti, em propostas antepostas e descabíveis simulacros. Oh, meu caro! Quem me dera ter tido um pouco mais de destreza para compreender que precisavas tu pegar as malas. Sempre fui pássaro, e nunca me vi impedindo voo, até então […]
Alguns dias se passaram desde o início deste escrito. Não saberei dizer ao certo quanto tempo, ele anda ferido demais. Há uma infinidade de valores e dados que ando perdendo pelo caminho, não quero decepcionar você, meu caro. Eu me perco nos segundos. Acredito que este é o ponto que partilhas comigo.
Não te irrites, a festa acabou.
E eu ainda volto a casa ao lado para colocar cartas em sua caixa de correio.A bem verdade, é que o sino do trem tem me despertado, é o mesmo som para o ensaio do fim da cena. Foi-se o tempo da intimidade dos cigarros.
Agora é o consumir. O esmague do fim em um cinzeiro.



Tereza
  ?. 01. 2014 

domingo, 15 de dezembro de 2013

16. 12. 2013


Dear Mr. Novel,

[…]

Eu queria viver uma outra vida, neste momento.

[…]

Você devia ser sincero.

Corta logo a linha. Eu sei que você não pode desembaraçar as coisas (in cabeza)[…] Estou pronta para lamber as feridas.
Não desfaz as malas.

(I'll still be there for you)



     Angústia
16. 12. 2013

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

12. 12. 2013

Sarah,

Escrevo-lhe com a angústia dos anos que passaram desde o ultimo afago que nos foi possível. Não penso na involmuidade do tempo, já basta a nostalgia dos antigos momentos de feliz idade que tivemos. Quando penso nos sorrisos que se deterioraram com o passar sinto a face entorpecida pelos mais vastos e impróprios sentimentos. Foi tanto, foi tempo, e o verbo exato é este: foi. E no tempo dos verbos sinto a peso do que agora se projeta frente aos meus olhos e, brevemente, frente aos teus. Hoje sentei-me a porta de um lugar qualquer pensando nas alegrias de nossa amizade frutificada. Sempre fomos tão diferentes, tão incompletas e engasgadas com o pouco do tudo que podemos ver. Eu esperei o momento certo, a hora vaga, pra dizer as palavras de um livro que talvez, mudasse o tudo. Admirei-me por um mundo novo, admiraste a ti também?
E no esboço dos dias que seguiram desde então, caminhamos paralelamente por diversas portas em busca de algo pequeno e amorfo, tão cego quanto um morcego que, ainda assim, vê.
Eu sinto falta, falta até mesmo de faltar.

Afetuosamente,


  Tristeza

12. 12. 2013

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

10. 12. 2013

Afonso,

Não há palavras sem pronuncia, mas a boca seca, esvazia-se e emudece.
Poderia dizer que estes malditos códigos são pequenos, e impróprios.
E sinceramente, não quero operar por similaridade.
Não quero evocar sentidos.
Há um hiato entre ser e não ser mais. Aquilo que sentimos nos diz sobre nós, e apenas o Eu reconhece-se em vestidos de um outro que o é. Que jogo doente!
Sofro por mim. E não há véspera para isso. Não há um só momento de brevidade em antecedência da queda.
O tempo amortece as pontas amoladas que entram garganta a fora.
Toda esta complexidade para existir, e tão somente por. Não há escolha, desde então. E o mundo gira, continua livremente girando, como se tudo ocorresse de maneira sistematizada, com uma lógica própria de sentido e derivação perfeita, habitações perplexas de nada. De gente que circula por linhas iluminadas, seguindo um destino gosmento de vida, de sonho, de caos. Como a borboleta preta que morre por ser preta, sem escolha nem de um, nem de outro […]
Nada que escape a um texto sem travessias de linguagem.
No mais, atribuo o escrito a aquilo que persiste.




Tristeza
10. 12 .2013