segunda-feira, 27 de abril de 2015



Ausência,


Escrevo, pois tudo é metafórico tal qual a busca das palavras atônitas que cercarão minha voz. A escrita é urgente, instintiva, e não posso mais ser omissa.
Se antes escrevi os meus seres, proclamava-os na instância das palavras, hoje o faço de modos contrários.
Assim, o faço para silenciar. Silêncio que estabeleço ao dizer e chamar-te Ausência. Meu espírito reencontra a si, mais uma vez. Reconhece em resistência. Vivo ao resistir. Opto pelo desaparecimento que diz: resisto. Nego a existência. Resisto, uma vez mais. Escolho o silêncio insustentável do não ser.
É a causa do não ser.  
Eu seria eternamente o seu bichinho, entretida em relações e complexidades; deixaria que me esfolasse a pele, que brincasse com minha personalidade e afligisse a moral dos contructos. Deleitar-me-ia com todo o jogo das contradições, seria solícita e prestativa ao teu amor. Eu te amo, em propósito. Já fui sua santa, seu colo, já beijei suas lágrimas, fui fruto e alvo dos filhos que trouxe ao mundo. Orei e mijei nos seus relicários, sem nunca ter pisado no chão da sua casa. Eu fui sua, sem nunca tê-lo sido. Eu seria seu bichinho, nunca sua mulher. Por mais que você o tenha quisto, que você o tenha negado, que você o tenha implorado – ao silêncio –. Eu resisti. Não no espaço cognoscitivo das almas, mas naquilo que chamarei de natureza. A minha natureza resiste. Ela é resistência. Neste complexo instante eu vejo como o fiz durante toda a vida. Os meus olhos resistem a entrega, minha boca resiste as letras, minhas mãos a servir, e meus pés dançam [...]

P.S: This time I'm gonna keep me all to myself



                                                      Tereza
27.04.2015